sábado, 2 de julho de 2016

sobre assaltos


Fui assaltado pela primeira vez aos 10 anos voltando da padaria. Levaram uns chicletes que comprei para uma competição de festa junina na escola. A segunda vez que me assaltaram eu tinha 11 anos. Estava indo para a escola. Levaram meus vales-transporte. A terceira vez que fui assaltado foi na volta da padaria. Levaram o troco e um pedaço do pão. A quarta vez que fui assaltado foi na escola. Levaram um estojo com meu material escolar. A quinta vez que me assaltaram foi voltando da escola. Nessa, estavam com uma barra de ferro e eu estava com duas colegas. Levaram uma calculadora e algumas moedas. A sexta vez que me assaltaram foi indo para a escola. Levaram a alça de uma mochila porque a segurei no ponto de ônibus e não deixei que me levassem livros e cadernos. A sétima vez que fui assaltado foi voltando da casa de uma ex-namorada, na madrugada de uma segunda-feira de carnaval. Fui espancado por umas trinta e cinco pessoas, de idades e gêneros diferentes. O número de pessoas foi estipulado pela polícia quando registramos a ocorrência. Levaram uma pochete com um canivete e poemas, um ticket refeição e dois vales-transporte; um dos meus dentes, quebrado a chutes; meu relógio de pulso. Fiquei com o rosto arrebentado por um mês e com fortes dores nos rins.
      Fui assaltado sete vezes dos 10 aos 18 anos.
Além desses assaltos, no mesmo intervalo de tempo, fui abordado incontáveis vezes, sem assalto, porque estava sem nada nos bolsos. Tentaram levar meus chinelos, uma vez, sem sucesso: eram velhos. Tentaram levar o que tivesse nos bolsos, sem sucesso, porque andava só com a chave de casa. Não usava nada que fosse caro ou de marca ou que chamasse atenção. Andava com o dinheiro nas meias, quando andava com dinheiro. Fiquei 16 anos sem ser assaltado, mesmo tendo sido abordado duas vezes em Vitória, mas estava sem nada nos bolsos.
Nos últimos noventa dias, tive minha casa invadida três vezes, sofri dois assaltos em menos de trinta dias. Levaram uma bicicleta, uma furadeira, uma serra tico-tico, um jogo de panelas, um jogo de taças e de xícaras. Pelo menos dessas últimas vezes, não sofri no corpo, como na sétima. Acredito que muitos já foram assaltados mais vezes do que eu. Quis registrar isso para lembrar que, mesmo sendo tantas vezes assaltado, não acho que bandido bom é bandido morto.

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