quarta-feira, 20 de julho de 2016

Atlântica - parte I


Hoje o mar, sua ampliadão. Nas noites geralistas, as margens impossíveis entre a travessia e o atravessar. Há o Chico que dá a lua, vermelha, na vazante de seu fluxo. Mas há além, onde o Chico quebra, a amplidão atlântica azulada das tardes desse inverno na linha final: ponta de areia onde o Velho Gigante se abraça ao sal.
      O Chico, em sal, no Atlântico. Atlântico como o Tejo, o Amazonas. Atlânticos rios que me passam na amplidão do mar, nessas tardes, onde o passar, seu vagar e ficar, são mais a calmaria de ontem, nesse céu de azul de doer.
E em tudo uma espera: a casa, lenta, que agora espera; o tempo das velhas panelas, com a tradição de mim em atropelos. As cozinhas fartas de amizades, de contos que, guardados, cabem na curva marrom mais fina da concha de um caramujo. O novo falar e o novo auscutar, porque há no sertão desses gerais outros sons sabores de saberes novos, encroados. De suores novos mal digeridos e o sal na língua que lambe a velha palavra dia: dia, constante como o tempo das galáxias.
É sal o sol da amplidão no barro das coisas atravancadas nas barrancas. E as criança em sal correm nas ruas de pedra nesse sol de julho, só sal. Branca, a nuvem solitária que passa me lembra: tudo tem fecho e segurança, tudo na amplidão de limites, para transpô-los como a um novo sabor, como a experiência que o corpo presenteia aos sentidos, quando em contato com uma inaugural madrugada. Tudo em sal por fim. Fino. Fino como o mais fino dos sais, porque – mínimos – se escondem nos poros.
Espera e sal: tudo na amplidão sem fechos fechados na esfera onde os rios são por fim o Atlântico, o Pacífico, os mares misturados. Hoje o mar, amplidão. Esse céu, meu inverno em mim azul de doer. Um inverno, sem frio possível, mas de rio e lendas. Cantam nas águas as vidas que estão além do abismo, a gruta que no fundo do rio levará a todos para o que temos de mais.

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