segunda-feira, 20 de maio de 2013

Dos mapas



Chegar para partir não mais para outro lugar no mapa, mas para outro lugar em mim, entre as costelas, onde há frio como lá fora, onde há espaços ainda sem muito nome e nem muita função. Nos novos espaços, há choques constantes de tempos e de palavras, de verdades nunca sentidas – se é que verdades são, do que duvido – no fundo onde é tudo duplo: as ruas por onde passo, os contato com velhos conhecidos, o apreender os novos sem delimitá-los. Geografizar tudo em mim, desenhando um outro mapa e tecendo uma longa manta a que chamarei, outra vez, Minas Gerais. Nela, nem eu, já acostumado ao som das ondas, nem os livros, carregados ainda de grossa maresia, nem os móveis, habituados com o passar das tardes no calor, sabemos mais ao certo que lugar no mapa ocupamos, se de fato ocupamos mapas e lugares. Um longo vitral lilás nas manhãs frias explica a necessidade maior de café e cobertas, mas não explica as montanhas e o espinhaço, o sol batendo nas rochas. O frio é satisfação e não maltrata mais as mãos, há muito castigadas pelo tempo, mas não passa no turbilhão, no vento, nos nós dos dedos, na dor incessante no ombro esquerdo. O rosto no espelho não entende mais o que é o novo espaço urgente e intenso em um tempo de calma e contemplação. Sim, é tempo de contemplar por horas o pequeno rio. Mirar nele o espelho fluido e constante que é um conjunto difuso de explicações. E o rio me mostra que é preciso reaprender o outono no lugar estacionado no calendário. Decifrar o frio e o fio e refazer toda uma linha de pontos dados porque os nós estão se anovelando. O novelo aumenta, tropeça no bordado e em adjetivos. Tropeça em mim cada um desses nós que não podem buscar ouvidos ou pretendê-los no movimento incessante de intensidade, onde tudo é mais urgente; onde eu, que não tenho tanta urgência, ocupo a espera de outro mapa sem saber se no mapa ocupado há nomes e veredas, há a quem buscar abrigo na alvorada. Neste mapa, quem sabe se existe, e no outro, que não sei se existirá, haverá outro manto que é Minas, ainda não tecido nem experimentado, refeito no rosto que já tem, estranho rosto que já foi meu, um eu que agora vaga na noite em busca de outra face. Contorcer o rosto para nele caber os tantos mapas, as linhas da mão que nada dizem, os astros sobre a cama nos vidros sem palavras das janelas. Enredado, deito e contemplo o mapa do céu, com a colcha na mão, ainda sem saber se é manto, capacho, mortalha ou estandarte. Branca, sobretudo, pois não retirei dela as cores que a ela alinhavaria, as que aquecem, de fato, o que existe de cru nos riscos das calçadas, dos vícios das pedras vasculhadas deste rio. Então, desteço as noites e os dias sem ainda ter tecido coisa alguma, mas sabendo sempre que o primeiro ponto é rio.

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