O que tinha de ficar, ficou, e o que tinha de partir, partiu. Sedimentou-se
o sal das relações, mantendo os meus por perto – em seus telefones, seus
encontros, nossas divergências harmoniosas, saudáveis, violentas – e levou os
que por muito achei que se manteriam por perto. Tirou muitas sólidas convicções mostrando que nada têm de sólidas,
mudou a minha opinião sobre o mundo porque o mundo tem muitos olhos e ouvidos, transformou meu rosto, trocou de lugar o lugar de
pensar (nas tardes, quando paro e olho o longo e esquecido horizonte). Manteve as
janelas das cidades, seus milhares de problemas enquanto outra supernova surge
em um lugar esquecido do universo. Mostrou que o verso resolve quase tudo, mas
que é impossível resolver o verso. Trouxe-me perdas de tempo, de dinheiro, de
alegria e de ilusão em cada ruga que pousou sobre meu rosto, este que vai entre
o tempo do meu início até quando tudo será o que ficou por ser feito, essa
eterna incompletude. Tirou desse tempo o tempo mesmo que por muitos anos gastei
em vão e ensinou, por fim, que permanecer é, sobretudo, abandonar.
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