terça-feira, 4 de março de 2014

esquecido horizonte



O que tinha de ficar, ficou, e o que tinha de partir, partiu. Sedimentou-se o sal das relações, mantendo os meus por perto – em seus telefones, seus encontros, nossas divergências harmoniosas, saudáveis, violentas – e levou os que por muito achei que se manteriam por perto. Tirou muitas sólidas convicções mostrando que nada têm de sólidas, mudou a minha opinião sobre o mundo porque o mundo tem muitos olhos e ouvidos, transformou meu rosto, trocou de lugar o lugar de pensar (nas tardes, quando paro e olho o longo e esquecido horizonte). Manteve as janelas das cidades, seus milhares de problemas enquanto outra supernova surge em um lugar esquecido do universo. Mostrou que o verso resolve quase tudo, mas que é impossível resolver o verso. Trouxe-me perdas de tempo, de dinheiro, de alegria e de ilusão em cada ruga que pousou sobre meu rosto, este que vai entre o tempo do meu início até quando tudo será o que ficou por ser feito, essa eterna incompletude. Tirou desse tempo o tempo mesmo que por muitos anos gastei em vão e ensinou, por fim, que permanecer é, sobretudo, abandonar.

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