Mar,
é com saudade que miro-o no fundo de um espelho de banheiro. Você, que não aparece nesse espelho, mas nos meus olhos, no negro das retinas cansadas de um carnaval. Não tem você nesta quarta de cinzas cinza e triste a me lembrar que os dias nunca se repetem embora os erros sempre sejam recorrentes. Lembrar em seu verde-azul capixaba, rugindo contra as pedras na entrada da baía, rasgado pelos navios do globo, que tudo é só travessia, tudo é o seu liso rosto em movimento e tudo é força íntima e cósmica, como as ondas e as marés.
Aprender com você que o sentir profundo não tem raízes como a flor e o abacateiro, mas tem um universo de vida indomada que procria no seu ventre, e tem monstros abissais, tem afogados viúvos de mulheres de toda sorte, tesouros que talvez nunca encontremos.
A saudade, mar, é de sal. Como é de sal todos os demais sentimentos que tornam-se lágrimas. O seu sal, mar, que a tudo criou. O sal com que sempre se terminam carnavais.
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