Há na
mudança um ar de perda, uma tristeza. Uma melancolia impossível,
dessas que talvez ficaram por anos guardadas nas gavetas. Encaixotada
a vida, tudo o que sobra são coisas, restos de coisas, buracos na
parede, marca dos móveis na pintura. A vida que ocupava o espaço
agora é suspensão, é travessia, hiato sem preenchimento onde
tempo, calendário e relógio estão em conflito pela verdade.
Desfeita a casa, nesse hiato de tempo, nada acontece aqui dentro. E
quando nada acontece, tudo pode acontecer de repente, como a chegada
de uma boa nova por correio – nesse endereço que já se despede de
mim – ou um livro a ser comprado na chegada. Uma boa nova como um
pedido de desculpas, o conhecer um novo bar na cidade já tão
conhecida, rever um velho amigo que veio, a passeio, viver a saudade
que tornarei a sentir em uns meses. Uma alegre surpresa como um barco
prestes a zarpar para o mundo, sem saber se amanhã tem almoço na
hora, se há como fazer qualquer notícia, como se a travessia fosse
sempre o destino de chegada.
Você não tem ideia de como seus textos da Preparação de partida estão me ajudando com a minha partida. Eu não gosto de Niterói, mas vou sentir falta do que vivi aqui.
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