quarta-feira, 8 de maio de 2019

o sabor do sal - parte I


para ana

o amor, seus contratos e o que há mais, no que cabe de mais. o amor feito um guindaste, gigante e profundo como um precipício. onde, o amor, então? como segurá-lo entre as mãos sem que ele caia nessa via que segue serpenteando a montanha, com forte vento por trás, que nos carrega a alma seca de vertigens e velha como os dias das eras, antigas como o início dos tempos, mas hoje na ocupação diurna? como saber o amor, vivê-lo e condensá-lo num verso que seja capaz de exprimir com clareza além das letras de um nome, além das formas comuns, das pequenas coisas do dia? onde o amor está perdido e encontrado, raptado de seus ais sem muitos lances, onde cabe na verdade esse desvelo e meu jeito, onde durmo pesado? onde o amor me recupera das velhas feridas, dos tropeços e desenganos, desse mentir repetido a mim que em mim de fato pensava que cabia, e que não cabe, mas que punge na força dos dedos na noite, nas dores dos músculos da testa quando esvai a dor pelos poros, onde os atos e seus resultados se colocam empatados e não estamos mais no caminho da dúvida? como abrir mão do que se pensou e ouviu, seguindo uma velha lição, para chegar, no fim, na gema densa, essa joia dura de carbono e sal? enquanto o sal tiver sabor de sal. enquanto esse enfim se materializa?

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