domingo, 30 de junho de 2013

em face dos últimos acontecimentos




É tempo de tanta coisa: de manifestações, de ler o que a tese pede, de festival, de voltar a ouvir Chico e tocar João Bosco ao violão, de ler Baudelaire e de saber, sobretudo, que é hoje. É hoje sempre. Sentir que é hoje. Falei disso com o Pedrão: o hoje sem historicidade, sem sua temporalidade na presença, constituída por mim no meu hoje. Sinto que é hoje além de pensá-lo e qualquer análise muito longa, em qualquer devaneio no que pode ser de tudo e/ou no que foi de tudo, eu me perco nos tortuosos becos dos tempos verbais.

Da memória, em imperfeito pretérito que conjugo sempre, a saudade e a vontade de colocar as ruas por onde hoje piso nas ruas que pisei, as mesmas, mas com outros carros passando, outras pessoas, outras camisas no constante protestar. Há vontade de querer no hoje aquilo que eu vivi, mas não há nisso o minorar o hoje, com as ruas e as pessoas que hoje se ocupam dela, dos prédios e dos usos que hoje fazem as pessoas, de como, principalmente a juventude, faz uso desse hoje tão permeado de virtualidade e novos termos e usos – de telefones no hoje dos bares, nas fotos que hoje servem para o hoje, sem tanto recordar, numa outra experiência de viver, diversa da minha juventude. Este hoje muito mais denso, como um grande pêssego. É hoje nos olhos dos estudantes, hoje nos armazéns, hoje nas padarias onde se discute o manifesto – que ainda acontece hoje na internet, agora em algum post partilhado – sempre o só instante e o eterno adiamento do hoje também, porque é sempre hoje e tudo pode ser deixado para amanhã, até o amor.

Ontem, quando acordei, olhei o relógio verde da cozinha e pensei em um ponteiro dos segundos em motocontínuo – diferente daquele que reparte o hoje. Senti a angústia que faltava, a angústia que me levou ao salto ao lugar que eu tanto estudo. Quando Ana me perguntou o que tinha, respondi profundo: nada. Sentindo o movimento dos segundos em mim mesmo, como se a pergunta que me faço diariamente voltasse além da problemática central dos meus dias, senti lá, naquela suspensão, o que me refez. Voltei ao hoje mais sóbrio, outro por certo, mas que, até este instante, só consegue perceber de possível um breve tatear momentos-hoje.

sábado, 1 de junho de 2013

quando


teremos um caso qualquer quando o tempo já não for urgência e quando o que tivermos de pressa for uma ida ao armário, ao banco, às frutas da feira. teremos um caso quando o braço já for mais brando, o olhar mais manso, nosso sabor mais sóbrio. então, não perderemos tempo com presentes e festas, com bebedeiras de dias inteiros, e ao som de uma leve música, seremos (os dois) a leve dança que sempre adiamos, o beijo esquecido nas poeiras das estradas. só aí, maduros, o amor será mais que um só sentido.

(parte de nós de nós, ainda em composição)

da passagem


Na ironia do destino, foi em Passagem, ao lado de um rio, que eu fixei minha morada, cheio de perguntas e de decisões por tomar. Mais que morada, vivo em outra passagem que habito. A passagem das horas que estudo diariamente, relendo e pensando; a passagem que é a estrada de Minas pedregosa, que está repetidamente lida e repensada sobre a mesa; a passagem das águas do rio que passa por debaixo da minha janela, a passagem do tempo daqueles que ainda vivem aqui o entre-lugar de suas muitas opções e escolhas, aquilo que desorienta pessoas próximas a mim aqui. Nestas passagens, perdido ainda, vi BH numa linha divisória daquilo que pode vir a ser uma reconquista ainda indecifrada. Vi outras possibilidades de destino e ando cheio delas pelos becos, alimentando sonhos novos que nunca me ocorreram, decisões mais sólidas que ainda não havia computado, novas esperanças para trilhar um outro caminho que me era, até então, nebuloso e complicado, sem destino aparente. Mas na escolha tudo pode ser novo de repente, surpreendente como a passagem que sempre muda tudo, cheia de outras esperas, com grandes e largas estradas a caminhar, mais claras que esses becos de indecisão. A escolha das escolhas, ainda por tomar, que me sugerirá tantas mudanças porque nela haverá mais por mudar que coisas e suas funcionalidades. A minha mudança misturada para outra passagem, no eterno não permanecer. Partir, quem sabe, para mim mesmo mais sóbrio em alguma outra esquina além, em um lugar que reúna o que busco e que pode me surpreender com o movimento característico de uma novidade passageira.