O limite dos privilegiados.
Bolsonaro odeia a educação porque educação é crescimento. E ele nunca
cresceu. Não digo de idade. Educação é um crescimento constante, a cada
desafio e a cada etapa concluída. O contato com os saberes amplia a
pessoa; ela não consegue caber nunca mais nas velhas medidas, nos velhos
espaços que ela ocupava antes de aprender.
Aprender a andar de
pé fez com que as pessoas nunca mais engatinhassem. Aprender a falar fez
com que as pessoas nunca mais balbuciassem. O estágio posterior ao
aprendizado é um estágio do qual não se pode retroceder. Isso é crescer.
E Bolsonaro não cresceu.
Há ali uma limitação qualquer, não
sei. Mas ele parou em algum estágio de seu crescimento e decidiu, ou
mesmo não conseguiu, ir adiante. Descobriu um limite e o aceitou como
fim. Porque é limitado, assim, de quem chegou ao limite e estacionou ali
- por medo, preguiça ou escolha. Então, por não ser capaz de seguir
adiante, ele acredita que crescer é inútil.
Para quem chega no
limite de sua capacidade sem aceitá-lo, deve ser odioso ver quem segue
crescendo, quem não se deixa barrar pelos limites. E a vida
universitária, a Universidade, é o lugar onde os limites estão, a todo
momento, se alargando, crescendo. É onde todos os anos estudantes se
formam convictos de que não cabem mais nas medidas que ocupavam antes de
entrar ali. Convictos de que cresceram e sapientes de que ainda há
muito a crescer. E ele, Bolsonaro, limitado, se enfurece.
Bolsonaro se enfurece porque ele poderia estar ali. Ele é branco, homem e
de classe média. Não recebeu uma educação precária nem foi obrigado a
parar de estudar. Estava, como muitos brasileiros de sua classe social,
cercado de privilégios e não conseguiu mais crescer. Diferente dos
pobres, que precisam abandonar o estudo para trabalhar, ou de negros e
negras historicamente excluídos do contato com a educação. Ele poderia
ter sido médico, dentista, General do Exército. Ele não conseguiu.
Porque chegou ao seu limite. E se enfurece com quem conseguiu e consegue
seguir crescendo.
Para piorar, educou seus filhos nessa lógica.
Achou outro limitado que largou a escola e foi morar em outro país, que
tem atrás de si (nos vídeos que publica) livros que são só cenário.
Outro que, por não conseguir ser filósofo por formação, por não ter
concluído a escola básica, se autoproclamou filósofo. O limite branco,
masculino, de classe média. O limite dos privilegiados.
Atacar
as Universidades, as humanidades, o pensamento livre e que produz
crescimento, é o ódio do limite dos que não conseguiram. Bolsonaro não
conseguiu, mesmo com tantos privilégios. Outros tantos, brancos e de
classe média, também cheios de privilégios, não conseguiram. Mesmo com
boas escolas, boa alimentação na infância, boas condições de estudo,
morando em casa própria, com condições de só se dedicarem ao estudo. E
deve ser doloroso ver os pobres, os que nunca tiveram chance, os que
trabalham e estudam, as que levam os filhos para as aulas por não terem
com quem deixar, conseguirem sem privilégio nenhum o que ele, Bolsonaro,
com tantos privilégios, não conseguiu. O que seus filhos, com tantos
privilégios, também não conseguiram.
Por isso, ele quer destruir
tudo. Porque assim ninguém mais será capaz de esfregar na cara dele o
quão limitado ele é. O quanto ele não conseguiu. O quanto seus iguais
também não conseguiram. Só conseguirá isso impedindo que outros
consigam. Impedindo que outros cresçam. Por isso, estrangular a
Universidade, o pensamento e as ciências humanas. Esse é o pano de fundo
desse ódio. E dele o mercado se apropria.