quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Atlântica - VII

algo de remanso no fundo do rio quando bate a cara ao mar: amor, esse dilúvio.
enchendo os poros do corpo de outro corpo inalcançável, os dedos e os olhos comungam da mesma linguagem. amor, como o que esculpe o fundo do rio antes de, lento, bater a cara ao mar. o mar, tempo impreciso, revolverá o amor em seu ventre amplo e fundo. seu ventre maduro e inteiro, pleno de vida de antes. da vida anterior aos seres, época em que o planeta era só o fervilhar das entranhas, as lavas profundas de um amor primeiro.

algo estranho no remanso do rio: o ato. amar, um ato imperioso e impreciso, como o romper de uma crisálida, o estilhaçar a vidraça a pedras e correr. enquanto se corre, ter no rosto o beijo leve do amor que venta, secando becos e espalhando gotas de água suja da rua. água suja que chegará ao fundo do rio manso. esse rio, nossos rios, que se debatem profundos entrelaçando unhas e cabelos, linhas e salivas.

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