sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

do que tenho visto por aí




… e tenho lido trechos, só trechos, sem muito além. e na avenida há gente de todo o tipo e cada dia é um rosto novo, um jeito novo, um olhar novo. e passam ônibus coloridos com números e destinatários, como as cartas, cheios de gente e de selos, de avisos de permitido passar. e nas estantes do supermercado acho a marca de café que bebo, mas ainda não acho o café, mas acho as coisas que via antes do caos, antes da grande pausa. acho as pessoas nas estantes dos supermercados, entre suas contas, seus casamentos, seus divórcios, suas solidões (porque há em tudo certa solidão), acho mais asfalto quando pensava impossível mais asfalto. acho garçons, mulheres que caminham para manter a forma como no calçadão da Paria da Costa, e aqui há também jovens que param na caminhada para comer açaí como no calçadão da Praia da Costa. e daí descubro que os calçadões da Praia da Costa cortam o Brasil, porque ouço aqui mais das praias do que ouvia em Vila Velha, e recebo no ônibus as novas da Prainha que nem quando morava na Prainha ouvia. e me dá uma saudade da vista, do convento, da janela onde entrava o barulho da baía. mas a baía aqui é só palavra e calçadão com jovens tomando açaí. e as palavras do taxista que esteve na praia do morro, ou de meu irmão que esteve em Jacaraípe, ou das fotos de Adolfinho de um Transcol com sombrinhas na janela. e no trevo do Alphaville, vindo com a mudança para cá, lá de Mariana, vi um Transcol aposentado, hoje ônibus de trabalhadores de mina, passar sem sentir o sol, os terminais, os transeuntes, talvez nutrindo a mesma saudade que eu de ser de uma linha que ligava, sabe-se lá, Serra Sede a Laranjeiras, ou de ser uma linha entre Novo México e Itaparica ou mesmo de querer ser um 507 entre Vila Velha e Laranjeiras, parando em Goiabeiras, desses ônibus azuis pegados de empréstimo para quebrar suas rotinas como se fossem amarelos.

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