alguém ainda vem aqui de vez em quando na esperança de saber alguma notícia desse lado do atlântico. alguém sabe esse caminho, esse mesmo, trilhado entre ferros e estranhos ciscos, e sabe que se seguir essa estrada difícil pode ouvir o que aqui já ouviu um dia, ver o que aqui já viu um dia. alguém conhece essa estrada e sabe chegar nela, outra vez, pela mesma via que cruzou há anos no perdido dia.
hoje esse caminho traz ao mar que eu empilhei em caixas. ao mar de sensações e de medos que me leva a beiras de abismo dias seguidos. traz o que eu deixei escapar de mim, esse perdido ciclo de vertigens, onde pude um dia desabafar relaxado. hoje, entrar aqui é como entrar num quarto desabitado, mas que ainda sei comum e compartilhado, onde já vivi estranhas vaias e partilhei outros sentidos. entrar aqui é novamente estar em mim.
não escrever é o mesmo que estar morto. estou, insisto. parece que a morte já encontrou em mim o seu caminho. já encontrou em mim o seu destino e agora que a luz se apaga no fim da janela, sem janelas para penedos e ilhas, sem riachos onde pudera eu me debruçar esquecido, vou deixar aqui algumas pedras e mapas: alguns sinais em hebraico, não vocálicos, onde posso escrever nomes na areia do mar.