terça-feira, 5 de maio de 2020

combale

I


cada cruz
cada cova
cada voz
cada dor

combale

na estrada em ruína
nós
e
os mortos

sepultados em mim
esperam covas
ou
qualquer chão possível
na vala comum aberta ao sol
cicatriz de praça

um tempo duro
que desobriga o poema de espera

um tempo escuro
que desobriga a dor de disfarce

o choro na noite dos que não dormem
o cheiro do que se perdeu
e as mãos sujas de sangue dos que ignoram

[nas casas sem distância
como estar
como perceber
como lutar pelos das filas
pelos que esperam a ajuda que não vêm?]

a fúria de nós
dispensa o grito
mas exige a luta
além de notas

a fúria de nós
dispensa varandas
panelas e arrependidos

a fúria de nós exige o fim

do mandato
do mandado
o fim do imperdoável

do imperdoável
sujando de sangue uma bandeira

que chamei de minha

sexta-feira, 1 de maio de 2020

.

essas memórias
seu panegírico
e a festa

no espaço-sitiado
os braços que
[distantes]
sintetizam

:há

no outro lado
o ar que queríamos
e o sorriso solto
de outros carnavais

acaba a noite
[porque tudo ac
aba]

e nos sobra a sorte

a sorte
essa sim
cheia de nada