Paredes pedem novas tintas e ensaiam novas cores, momentos de repensar. Fotos revisitadas, espaços de amplidão revividos. É preciso entender o que há de dia no dia, um outono cheio e vazio, o que se espera de dor nos momentos sem dor e onde há precisão, se é outra indiferença. Há a necessidade de pensar o que se foi, quando foi, por que foi, se foi realmente. E tentar reescrever o tempo e o espaço, refazendo tudo como antes, sem antes, mas com um agora enorme e lento onde me deito e esqueço. Um lugar vazio de mim em mim, onde amanhã é depois de outro tempo ignóbil, inoportuno e frio, mas meu.
sexta-feira, 8 de maio de 2015
terça-feira, 5 de maio de 2015
Um ano violante
Há um ano, descobri um outro mundo significativo, mais harmônico, mais melódico. Nesse um ano de novas significações (esse mundo mais melódico, que veio da viola que toco e que me toca), aprendo a calma que a ancestralidade musical guardou nas cordas duplas, na sonoridade de jeito árabe e ibérico que ela carrega.
Tornamo-nos grandes amantes. A viola vive comigo a maior parte do meu tempo. Por um dia desses, na rodoviária de Ouro Preto, a viola fez uma senhora dançar e me contar de sua vida de carregar latas d'água na cabeça, de seu passado sofrido. A neta da senhora filmou-a dançar a música do Tom que a viola tocou e eu não vi o vídeo, não sei de seu destino. No chão da rodoviária de Belo Horizonte, ela fez parar pessoas curiosas, gente que sempre, indistintamente, se aproxima dela sorrindo.
De todas as experiências que tive com a viola, essa é a mais intrigante: as pessoas que dela se aproximam quando começamos a tocar chegam sorrindo! No Jardim, em Mariana, juntou em torno de si crianças curiosas, hipnotizadas, um rapaz com uma gaita e outras histórias de vida. Na praça da Liberdade, em BH, fez uma mulher fotografá-la, uma criança dançar e um casal de namorados sorrir. Na minha casa ela encanta os livros, as coisas fora de lugar, motiva um vizinho a tocar violão numa janela ignorada.
Ontem lembramos com ela nostalgias. Cantamos Chico, músicas de outras noites e outras alegrias, no seu jeito e no meu jeito ainda pouco treinados, mas muito íntimos. A viola, ciumenta, quer viajar comigo, conhecer meus amigos, ir comigo a todo canto, cantar o que gosto de ouvir, o que sempre toquei e o que ela gosta de tocar, seu jeito tradicional, as histórias de pacto com o demônio que ela carrega no bojo, nas suas dez cordas. E me trouxe um mundo mais bruto, mais cheio de palavra e mistério, mais cheio de sorriso.
Nesse um ano, uma surpresa recente: ela toca para alguém que dela se enjoa, que julga enviesado o toque que dela sai (entendendo tudo errado), dizendo dar mais valor ao silêncio. E quando querem o silêncio, nos retiramos, eu e ela, desses espaços quando sentimos que não somos mais bem-vindos. Sem ofensas. Pois sabemos que na rua, pelos caminhos e estradas, em outras casas de outras pessoas queridas, alguém dela se achegará sorrindo, pelos próximos acordes que fizermos. A viola criará sorrisos, não precisa resistir onde não a querem mais.
Amanhã cairemos no mundo, eu e ela. Conheceremos pessoas e lugares, e sorrisos de outra natureza. Amanhã, dia de aniversário, ela estará no mundo cheia de tranquilidade. E a cada nova descoberta que faremos a partir de amanhã, do mundo ou de seus acordes, outro eu em mim nascerá, mais melódico, mais harmônico, mais em paz.
Tornamo-nos grandes amantes. A viola vive comigo a maior parte do meu tempo. Por um dia desses, na rodoviária de Ouro Preto, a viola fez uma senhora dançar e me contar de sua vida de carregar latas d'água na cabeça, de seu passado sofrido. A neta da senhora filmou-a dançar a música do Tom que a viola tocou e eu não vi o vídeo, não sei de seu destino. No chão da rodoviária de Belo Horizonte, ela fez parar pessoas curiosas, gente que sempre, indistintamente, se aproxima dela sorrindo.
De todas as experiências que tive com a viola, essa é a mais intrigante: as pessoas que dela se aproximam quando começamos a tocar chegam sorrindo! No Jardim, em Mariana, juntou em torno de si crianças curiosas, hipnotizadas, um rapaz com uma gaita e outras histórias de vida. Na praça da Liberdade, em BH, fez uma mulher fotografá-la, uma criança dançar e um casal de namorados sorrir. Na minha casa ela encanta os livros, as coisas fora de lugar, motiva um vizinho a tocar violão numa janela ignorada.
Ontem lembramos com ela nostalgias. Cantamos Chico, músicas de outras noites e outras alegrias, no seu jeito e no meu jeito ainda pouco treinados, mas muito íntimos. A viola, ciumenta, quer viajar comigo, conhecer meus amigos, ir comigo a todo canto, cantar o que gosto de ouvir, o que sempre toquei e o que ela gosta de tocar, seu jeito tradicional, as histórias de pacto com o demônio que ela carrega no bojo, nas suas dez cordas. E me trouxe um mundo mais bruto, mais cheio de palavra e mistério, mais cheio de sorriso.
Nesse um ano, uma surpresa recente: ela toca para alguém que dela se enjoa, que julga enviesado o toque que dela sai (entendendo tudo errado), dizendo dar mais valor ao silêncio. E quando querem o silêncio, nos retiramos, eu e ela, desses espaços quando sentimos que não somos mais bem-vindos. Sem ofensas. Pois sabemos que na rua, pelos caminhos e estradas, em outras casas de outras pessoas queridas, alguém dela se achegará sorrindo, pelos próximos acordes que fizermos. A viola criará sorrisos, não precisa resistir onde não a querem mais.
Amanhã cairemos no mundo, eu e ela. Conheceremos pessoas e lugares, e sorrisos de outra natureza. Amanhã, dia de aniversário, ela estará no mundo cheia de tranquilidade. E a cada nova descoberta que faremos a partir de amanhã, do mundo ou de seus acordes, outro eu em mim nascerá, mais melódico, mais harmônico, mais em paz.
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