eu busquei o verso que solucionasse. virei-o de ponta, do avesso. em vão. as escolhas, sobretudo as que não cabe a nós tomar, não se solucionam ou se fazem no verso. o verso abraça essas escolhas, envolve-as, sem solucioná-las. o verso complica sempre muito mais. é quando ele complica que eu posso me ver de novo ao espelho. e me sentir bem porque me revejo, enfim, desguarnecido de escolhas, solto. limpo de tantas colagens que ao meu rosto foram feitas, carregadas de expectativas - como quem cola cartazes na parede de um quarto. meu rosto, essa parede cheia de rachaduras, ou só as rachaduras para além das paredes, ou só o além das rachaduras, aos poucos reaparece. e outros versos surgem, maiores: "não sou nada", "nada me prende a nada", "minha matéria é o nada". quem sabe, só agora, a palavra esteja retirando-me da suspensão, porque, só agora, posso vislumbrar o caminho, refeito, que abandonei. e a escolha? é em vão, sempre foi. como a porta a que não cruzaram. para que, no fundo, abri-la, ela que dava para uma parede só rachaduras?