terça-feira, 5 de novembro de 2013

dos mapas antigos

                         


 Se estiver perdido, compre um mapa. Mas não desses que a Google faz, cheio de coisas que acontecem agora, que você pode colocar no vidro da janela do carro e se guiar. Compre um mapa antigo, difícil de se ver o caminho nele traçado, o nome do lugar que nem existe mais. E veja bem de perto que o cartógrafo errou a latitude, perdeu a conta da longitude e nunca você encontrará aquele lugar. É ali que começa tudo: onde as coordenadas nada dizem, é literatura. Lá, sempre haverá civilização, conforto, conflito, dor a sobrar e uma fina agulha. Procure essa agulha loucamente e costure as coordenadas achadas no mapa comprado na mão do alfarrábio árabe que fechou a livraria para investir em outro negócio. Costure essa matemática e ela guiará você, quem sabe – e só se tiver muita sorte – para o mundo que exite dentro da boca de Pantagruel. E ao sair, passando pela civilização que planta repolhos, você talvez encontre um cachalote, um marinheiro louco, um pirata gatuno que atende às vezes pelo nome de Monte Cristo, uma nave que é capaz de levá-lo à lua, um balão que o faz chegar em Londres, um livro vermelho que uma menina aperta contra o peito, uma família que se consome na dúvida, um dono de fazenda, acordado na noite, escrevendo a história de Viçosa de Alagoas, um velho jagunço deitado na rede. Se encontrá-lo, diga que eu mandei notícias e pergunte: existe?