Quando o mundo é uma brincadeira sem graça e tudo, de um estalo, fica cinza. É cinza o rio que passa aqui em baixo, cinza a velha rua de pedra, cinza os versos que li na madrugada. Nenhuma dessas formas de cinza é resposta. A perda, súbita, é como um susto, e eu ainda não sei que reação tomar. Ando no cinza, confuso, e tudo, num estalo, é pequeno: a briga, a mágoa, a incompreensão. Tudo ridiculamente pequeno, e como pó, some na mão.
Neste ano, essa sensação é cada vez mais uma verdade. Fio a fio, a aranha cinza de zinco, o tempo, destece as pessoas do meu passado. Destece a promessa de depois, dissolve tudo e me faz lembrar, olhando com os seus mil olhos, que nada, nunca, pode ser adiado, postergado, remarcado. Que se fazemos isso, é na confiança absurda no depois, de que a aranha cinza de zinco não está a destecer.
E eu que ainda tinha tanto a dizer, a saber, a conhecer pelas palavras que me viriam daqueles que a aranha desteceu, que não mais se pronunciam, que se separam de mim na dor da memória! E é incoerente saber que quando olho para trás, a cada passo que dou para frente, alguém sumiu do presente. Olhando este rio hoje, nesta manhã, ainda não sei destecer o rosto destecido pela aranha. Acho que nunca será destecido, mas não envelhece mais. Não sei bem, mas o tempo pode destecer alguém que a vida já não guarda o corpo, aqui, no presente, mas que ainda se agita na memória, palavra-alada que resiste?
Neste ano, essa sensação é cada vez mais uma verdade. Fio a fio, a aranha cinza de zinco, o tempo, destece as pessoas do meu passado. Destece a promessa de depois, dissolve tudo e me faz lembrar, olhando com os seus mil olhos, que nada, nunca, pode ser adiado, postergado, remarcado. Que se fazemos isso, é na confiança absurda no depois, de que a aranha cinza de zinco não está a destecer.
E eu que ainda tinha tanto a dizer, a saber, a conhecer pelas palavras que me viriam daqueles que a aranha desteceu, que não mais se pronunciam, que se separam de mim na dor da memória! E é incoerente saber que quando olho para trás, a cada passo que dou para frente, alguém sumiu do presente. Olhando este rio hoje, nesta manhã, ainda não sei destecer o rosto destecido pela aranha. Acho que nunca será destecido, mas não envelhece mais. Não sei bem, mas o tempo pode destecer alguém que a vida já não guarda o corpo, aqui, no presente, mas que ainda se agita na memória, palavra-alada que resiste?