dos versos

A máquina de escrever trabalha
incessantemente em algo que ainda nem tem forma, mas é em verso
bruto que precisa de gaveta e lapidação, de tempo – muito tempo –
como os que eu deixo guardados nas caixas espalhadas pela casa. Há
então a busca por outros versos, mais leves e de força. Nos versos
laranja que a Vanessa escreveu e que não mais tiveram versos
sucessivos. Nos que escrevi sobre a foto de Joana, nos que Fabrício
traduziu – em bela e aventurosa tarefa, e que tem exemplar
dedicado a Edmar aqui esperando o caminho dos correios, a postagem
urgente que nunca acontece e que incomoda a mim por não fazê-la
cumprir seu destino. Há também os versos da tese, o que está no
pulso da Ana, os que escrevi para ela e que ainda não foram
postados, dedicados, remetidos. E os versos todos se aglomeram e
enchem os pulmões de densa neblina e fumaça. Querem sair,
urgentemente, como o vômito a que Gullar comenta no prefácio do
Poema sujo, ou como as ondas
dos versos de Neruda, ou como as partitivas e desenhadas palavras dos
densos poemas de R. D. Laing. Dentre os versos que se acotovelam nos
pulmões, entre a neblina e a busca pela liberdade, um açucarado
verso de Césaire: “Le sucre du mot Brésil au fond du marécage.”
Césaire, que ainda espera uma tradução corajosa e aventureira, que
merece estudos e que quase ninguém conhece no Brasil. O
martiniquenho que tem belos versos sobre o samba, que põe nosso
batuque em sua lírica. E Césaire tem ficado junto com tantos outros
versos neste balde de vontades que não me abandona os pulmões, que
não se resolvem! – se é que versos se resolvem algum dia. Nem o
mar resolve esses versos. Quem sabe jogá-los na água salgada do mundo, como diz João
Cabral, mas não para tirar os que boiam. Para ver os que afundam
numa turva água do mar. Para ver qual deles germina no meio do sal e
que, potente, cresça varando o leito das águas, chegue às nuvens e
viva qual planta carnívora que vai, por fim, nos devorar.
=]
ResponderExcluirseus textos parecem ter sotaque mineiro. ouço direitinho.
E você cita Aimé Césaire! Não conheço a poesia dele, somente a negritude.
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